A misteriosa escala S
A maioria dos receptores usada pelos radioamadores está graduada numa
escala S. Todos a usamos, mas que informação poderemos extrair dela?
Noutros ramos de actividade, por exemplo, nas comunicações móveis, o nível
de sinal recebido é normalmente medido em mV
ou dBm. Comecemos por explicar estas unidades.
mV e dBm
O mV
não é mais do que uma medida de tensão na entrada de antena. É como usarmos
um voltímetro sintonizado na frequência que pretendemos e ler o valor de tensão
presente. A sensibilidade dos receptores é muitas vezes expressa em mV,
esta indica-nos qual o nível mínimo de sinal necessário para uma correcta
desmodulação do sinal.
Ao aplicarmos um sinal de alguns mV na entrada de antena do receptor, que apresenta uma impedância de 50Ω, estamos a gerar uma potência que podemos calcular através da clássica lei de Ohm.
Por exemplo para um sinal de 1mV temos:
Assim sendo podemos também expressar o nível de sinal de entrada como uma
potência. É esta ideia que nos leva ao dBm.
Sendo o dB apenas uma relação entre valores é necessário um valor de
referência. No caso do dBm a referência é 1mW que corresponde a 0dBm.
Matematicamente temos então:
Alguns exemplos:
|
1mW |
1W |
20W |
100W |
1mW |
1nW |
1pW |
1fW |
20fW |
dBm |
0 |
30 |
43 |
50 |
-30 |
-60 |
-90 |
-120 |
-107 |
No final deste documento encontra-se uma tabela com os principais prefixos
multiplicativos.
Num receptor de radioamadorismo podemos, aproximadamente, desmodular
sinais entre os -120 e os -30dBm, ou entre os 0.20 e os 7000mV.
Como é fácil de entender não seria muito fácil trocar um report
de 45mV
ou –94dBm.
A escala S cria assim uma maneira fácil de classificar a potência do
sinal recebido, correspondendo a cada número um nível de recepção.
O mistério começa aqui. Como não existe um padrão definido
internacionalmente entre fabricantes a escala S acaba por não nos dar uma
medida rigorosa, os casos que exemplificarei à frente são disso
demonstrativos.
Para definir a escala S, a ARRL usa as seguintes regras:
Se todos os receptores cumprissem estas regras à risca não haveria razões para desconfiarmos de alguns reports!
Já segundo o software Radio Mobile a escala S define-se assim:
Ainda segundo o Radio Mobile para frequências acima de 30MHz usa-se
3dB/unidade e não 6dB/unidade. A particularidade desta escala S, segundo o
Radio Mobile, ser baseada na sensibilidade do receptor leva-nos a duas conclusões:
sinais abaixo de S1 seriam sempre imperceptíveis e um receptor com mais
sensibilidade que outro reportará sinais S mais elevados.
Confuso, não?!
Na tabela seguinte encontram-se resumidos os valores teóricos de potência
recebida e valor respectivo na escala S. Para construir a escala Radio Mobile
assumiu-se uma sensibilidade do receptor de 0.25mV,
um valor normal em transceptores de HF.
Potência
recebida |
Tensão |
Escala
S ARRL |
Escala
S Radio Mobile |
||
dBm |
fW |
mV |
<30Mhz |
>30MHz |
|
-121 |
0.79 |
0.2 |
1 |
1 |
1 |
-115 |
3.16 |
0.4 |
2 |
2 |
2 |
-109 |
12.59 |
0.8 |
3 |
3 |
4 |
-103 |
50.12 |
1.58 |
4 |
4 |
6 |
-97 |
199.53 |
3.16 |
5 |
5 |
8 |
-91 |
794.33 |
6.30 |
6 |
6 |
9+4 |
-85 |
3162.28 |
12.57 |
7 |
7 |
9+10 |
-79 |
12589.25 |
25.09 |
8 |
8 |
9+16 |
-73 |
50118.72 |
50.06 |
9 |
9 |
9+22 |
-67 |
199526.23 |
99.88 |
9+6 |
9+4 |
9+28 |
-61 |
794328.23 |
199.29 |
9+12 |
9+10 |
9+34 |
-55 |
3162277.66 |
397.64 |
9+18 |
9+16 |
9+40 |
Deste quadro salta à vista que a escala S do Radio Mobile para HF coincide
com a escala S da ARRL, o que só é valido para sensibilidades do receptor
entre 0.16 e 0.28mV,
como serão a maioria dos receptores de HF.
Já no caso das frequências superiores a 30MHz a escala do Radio Mobile,
baseada em 3dB/unidade, apresenta valores substancialmente diferentes. Usar
3dB/unidade não é de todo descabido pois os sinais recebidos de VHF e UHF são
de muito menor amplitude que os de HF, essencialmente devido à atenuação em
espaço livre que é proporcional ao quadrado da frequência.
Para confrontar os valores teóricos com a prática foram utilizados um
gerador de sinal e dois transceptores: um TS-50 e um FT-847, ambos com uma
sensibilidade de 0.25mV
em SSB. A tabela seguinte resume os resultados obtidos em SSB:
Potência
(dBm) |
Escala
S ARRL |
Medido
TS-50 |
Medido
FT-847 |
|
10m |
10m
|
10m
c/RFAmp |
||
-121 |
1 |
0 |
0 |
0 |
-115 |
2 |
0 |
0 |
0 |
-109 |
3 |
1 |
0 |
0 |
-103 |
4 |
4 |
0 |
2 |
-97 |
5 |
5 |
0 |
4 |
-91 |
6 |
7 |
2 |
6 |
-85 |
7 |
8 |
4 |
8 |
-79 |
8 |
9 |
6 |
9 |
-73 |
9 |
9+5 |
8 |
9+10 |
-67 |
9+6 |
9+10 |
9 |
9+20 |
-61 |
9+12 |
9+15 |
9+10 |
9+30 |
-55 |
9+18 |
9+20 |
9+20 |
9+40 |
Como se pode ver nenhum dos transceptores testados segue a escala S da ARRL.
Com sinais fracos os S-meter’s ficam a 0. Para sinais 9 e superiores a
correspondência já é aceitável tanto no TS-50 como no FT-847 com o pré-amplificador
desligado.
Além dos dados apresentados também foram efectuados ensaios noutras
bandas de HF. Enquanto no TS-50 a banda utilizada não influenciou os resultados
já no FT-847 houve pequenas diferenças que chegaram a 1 unidade S.
Se em vez de SSB efectuarmos o teste com os transceptores em modo FM
os resultados são algo estranhos, mas não surpreendentes. O quadro seguinte
resume os resultados obtidos:
Potência (dBm) |
Escala
S ARRL |
Medido
TS-50 |
Medido
FT-847 |
|
10m |
10m
|
10m
c/RFAmp |
||
-121 |
1 |
0 |
0 |
0 |
-115 |
2 |
1 |
0 |
0 |
-109 |
3 |
5 |
0 |
1 |
-103 |
4 |
8 |
0 |
4 |
-97 |
5 |
9+30 |
1 |
7 |
-91 |
6 |
9+60 |
3 |
9+10 |
-85 |
7 |
9+60 |
7 |
9+40 |
-79 |
8 |
9+60 |
9+10 |
9+60 |
-73 |
9 |
9+60 |
9+40 |
9+60 |
-67 |
9+6 |
9+60 |
9+60 |
9+60 |
-61 |
9+12 |
9+60 |
9+60 |
9+60 |
-55 |
9+18 |
9+60 |
9+60 |
9+60 |
A maioria dos transceptores de HF funciona de maneira diferente quando em
modo FM, usando uma terceira frequência intermédia e influenciando o circuito
de Controlo Automático de Ganho de onde se extrai o sinal para a escala S.
Tanto o TS-50 como o FT-847, para sinais bons, exageram fortemente os reports. No entanto o FT-847 é mais comedido neste exagero, mesmo com o pré-amplificador ligado.
Ainda com o FT-847 repetiu-se o teste na banda dos 2m. Comparemos então os
resultados obtidos com a escala ARRL e escala Radio Mobile >30MHz para uma sensibilidade
de 0.2mV.
Potência (dBm) |
Escala
S ARRL |
Escala
S Radio Mobile
>30MHz |
Medido
FT-847 |
||
2m |
2m
c/RFAmp |
2m
FM |
|||
-121 |
1 |
1 |
0 |
0 |
0 |
-115 |
2 |
3 |
0 |
0 |
0 |
-109 |
3 |
5 |
0 |
2 |
1 |
-103 |
4 |
7 |
1 |
4 |
4 |
-97 |
5 |
9 |
3 |
6 |
8 |
-91 |
6 |
9+6 |
5 |
7 |
9+15 |
-85 |
7 |
9+12 |
7 |
9 |
9+50 |
-79 |
8 |
9+18 |
8 |
9+5 |
9+60 |
-73 |
9 |
9+24 |
9 |
9+15 |
9+60 |
-67 |
9+6 |
9+30 |
9+15 |
9+30 |
9+60 |
-61 |
9+12 |
9+36 |
9+25 |
9+40 |
9+60 |
-55 |
9+18 |
9+42 |
9+30 |
9+50 |
9+60 |
Este pequeno teste, apenas com dois transceptores, permitiu verificar que os
fabricantes não seguem nenhuma regra comum ao calibrarem os s-meter’s. Este
facto faz com que não possamos confiar nos reports que nos são dados excepto
quando se usa o mesmo modelo de equipamento dos dois lados da comunicação.
Esperando ter conseguido desfazer um pouco do nevoeiro em torno da escala S só me resta desejar-vos bons contactos, sejam a S0 ou a S9+60.
Nome |
Símbolo
|
Factor
multiplicativo |
Exemplo |
kilo |
k |
´103 |
1km
= 1000 m |
Mega |
M |
´106 |
1MHz
= 1000000 Hz |
Giga |
G |
´109 |
1Gbit
= 1000000000 bit |
Tera |
T |
´1012 |
|
Peta |
P |
´1015 |
|
Exa |
E |
´1018 |
|
mili |
m |
´10-3 |
1mA = 0.001 A |
micro |
m |
´10-6 |
1mV = 0.000001 V |
nano |
n |
´10-9 |
1nH = 0.000000001 H |
pico |
p |
´10-12 |
1pF = 0.000000000001 F |
fento |
f |
´10-15 |
1fW
= 0.000000000000001 W |
ato |
a |
´10-18 |
|
73 DE CT1GVN