Roberto Landell de
Moura
(Porto
Alegre, 21 de janeiro de 1861 — Porto Alegre, 30 de junho de
1928).
É considerado um dos
vários "pais" do rádio, no caso o pai brasileiro do Rádio. Foi
pioneiro na transmissão da voz humana sem fio (radioemissão e
telefonia por radio) antes mesmo que outros inventores, como o
canadense Reginald Fessenden (dezembro de 1900). Marconi se
notabilizou por transmitir sinais de telegrafia por rádio; e só
transmitiu a voz humana em 1914.
Pelo seu pioneirismo, o Padre Landell é o patrono dos
radioamadores do Brasil. A Fundação Educacional Padre Landell de
Moura foi assim batizada em sua homenagem, assim como o CPqD
(Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) criado pela Telebrás em
1976, foi batizado de "Roberto Landell de Moura"
O Padre Landell.
Realizou os seus
primeiros estudos em Porto Alegre e São Leopoldo, antes de
seguir para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Em companhia
do irmão Guilherme, seguiu para Roma, matriculando-se a 22 de
março de 1878 no Colégio Pio Americano e na Universidade
Gregoriana, onde estudou física e química. Completou sua
formação eclesiástica em Roma, formando-se em Teologia, e foi
ordenado sacerdote em 1886.
Quando voltou ao Brasil, substituiu algumas vezes o coadjutor do
capelão do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, e manteve longos
diálogos científicos com D. Pedro II. Depois disso, serviu em
uma série de cidades dos Estados do Rio Grande do Sul e de São
Paulo: Porto Alegre, Uruguaiana, Santos, Campinas, São Paulo.
Em Roma, iniciou os estudos de física e eletricidade. No Brasil,
como autodidata continuou seus estudos, e realizou as suas
primeiras experiências públicas na cidade de São Paulo, no final
do século XIX.
O Exército Brasileiro em homenagem ao insigne cientista gaúcho,
concedeu em 2005 a denominação histórica de "Centro de
Telemática Landell de Moura" ao 1° Centro de Telemática de Área,
organização militar de telecomunicações situada na cidade de
Porto Alegre Transmissão da voz.
Foi pioneiro na transmissão da voz, utilizando equipamentos de
rádio de sua construção patenteados no Brasil em 1901, e,
posteriormente, nos Estados Unidos em 1904. Landell transmitiu a
voz humana por meio de dois veículos; o primeiro, um transmissor
de ondas que utilizava um microfone eletromecânico de sua
invenção que recolhia as ondas sonoras através de uma câmara de
ressonância onde um diafragma metálico abria e fechava o
circuito do primário de uma bobina de Ruhmkorff, e induzia no
secundário dessa bobina uma alta tensão que era irradiada ou
através de uma antena ou de duas esferas centelhadoras. A
detecção era feita por dispositivos que foram sendo melhorados
ao longo do tempo.
O segundo meio utilizado pelo cientista era através do aparelho
de telefone sem fio, que utilizava a luz como uma onda portadora
da informação de áudio. Neste aparelho, as variações das
pressões acústicas da voz do locutor eram transformadas em
variações de intensidade de luz, de acordo com a onda de voz,
que eram captadas em seu destino por uma superfície parabólica
espelhada em cujo foco havia um dispositivo cuja resistência
ohmica variava segundo as variações da intensidade de luz. No
circuito de detecção havia apenas o dispositivo fotossensível,
uma chave, um par de fones de ouvido e uma bateria. Por utilizar
a luz como meio de transporte de informação, Landell é
considerado um dos precursores das fibras ópticas.
O Padre Landell realizou experiências a partir de 1892 e 1893,
em Campinas e em São Paulo. O jornal O Estado de S.Paulo
noticiou que, em 1899, ele transmitiu a voz humana a partir do
Colégio das Irmãs de São José, hoje Colégio Santana, no alto do
bairro de Santana, zona norte da capital paulista. Também
efetuou demonstrações públicas de seu invento no dia 3 de junho
de 1900 sendo noticiada pelo Jornal do Commercio de 10 de junho
de 1900:
"No domingo passado, no alto de Santana, na cidade de São Paulo,
o padre Landell de Moura fez uma experiência particular com
vários aparelhos de sua invenção. No intuito de demonstrar
algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som,
da luz e da eletricidade através do espaço, as quais foram
coroadas de brilhante êxito. Assistiram a esta prova, entre
outras pessoas, Percy Charles Parmenter Lupton, representante do
governo britânico, e sua família".
Em 1903, Arthur Dias, em seu livro "Brasil Actual", faz
referência a Landell de Moura, descrevendo, entre outras coisas,
o seguinte:
Logo que chegou a S. Paulo, em 1893, começou a fazer
experiências preliminares, no intuito de conseguir o seu intento
de transmitir a voz humana a uma distância de 8, 10 ou 12 km,
sem necessidade de fios metálicos.
Após alguns meses de penosos trabalhos, obteve excelentes
resultados com um dos aparelhos construídos. O telefone sem fios
é reputado a mais importante das descobertas do Padre Landell, e
as diversas experiências por ele realizadas na presença do
vice-cônsul inglês de S. Paulo, Sr. Percy Charles Parmenter
Lupton, e de outras pessoas de elevada posição social, foram tão
brilhantes que o Dr. Rodrigues Botet, ao dar notícias desses
ensaios, disse não estar longe o momento da sagração do Padre
Landell como autor de descobertas maravilhosas".
O êxito das experiências do Padre Landell não teve a devida
acolhida das autoridades brasileiras da época, conforme se
verifica em reportagem publicada no jornal La Voz de España,
(editado em S. Paulo), no dia 16 de dezembro de 1900, que diz:
Quantas e que amargas decepções experimentou Padre Landell ao
ver que o governo e a imprensa de seu país, em lugar de o
alentarem com aplauso, incentivando-o a prosseguir na carreira
triunfal, fez pouco ou nenhum caso de seus notáveis inventos.
Estava em Campinas quando, numa tarde, ao retornar da visita a
um doente, encontrou a porta da casa paroquial arrebentada e seu
laboratório e instrumentos completamente destruídos.
Visto por uma população ignorante como "herege", "impostor",
"feiticeiro perigoso", "louco", "bruxo" e "padre renegado" por
seus experimentos envolvendo transmissões de rádio dois dias
antes em São Paulo, pagou com sofrimento, isolamento e
indiferença sua posição de absoluto vanguardismo científico.
Em junho de 1900, por carta, Landell de Moura pretendeu doar
seus inventos ao governo britânico, como registrou em pesquisa
para doutorado na USP, em 1999, o historiador da ciência
Francisco Assis de Queiroz.
Em 1905, ao retornar ao Brasil após uma estada de três anos nos
Estados Unidos, ainda teve energia para enviar uma carta ao
presidente da República, Rodrigues Alves. Solicitava dois navios
da esquadra de guerra para demonstrar os seus inventos que
revolucionariam a comunicação (chegou a dizer que, no futuro,
haveria comunicação interplanetária). O assistente do
presidente, no entanto, preferiu interpretá-lo como um "maluco"
e o pedido foi negado. Na Itália, quando fez um pedido
semelhante, Marconi teve toda a esquadra à disposição.
Landell não conseguiu financiamento privado ou governamental
para continuar as suas pesquisas nem para construir equipamentos
de rádio em escala industrial. E também teve problemas com a
Igreja que o transferiu para cidades sem energia elétrica.
Patente brasileira e estadunidense.
Landell de Moura, em 9 de março de 1901 obteve para seus
inventos, a patente brasileira número 3.279 Poucos meses depois
seguiu para os Estados Unidos, e em 4 de outubro de 1901 deu
entrada no The Patent Office of Washington, DC pedindo
privilégio para as suas invenções, tendo obtido, em 11 de
outubro de 1904 a patente 771.917 , para um transmissor de
ondas; a 22 de novembro de 1904, a patente 775.337 para um
telefone sem fio e a 775.846 para um telégrafo sem fio.
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Os seus trabalhos foram noticiados em 12 de outubro de 1902, no jornal americano "The New York Herald", em reportagem sobre as experiências desenvolvidas na época, inclusive por cientistas americanos, alemães, ingleses dentre outros, na transmissão de sons sem uso de aparelhos com fio. Ressalta o jornal:
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- "Por entre os cientistas, o brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles tem dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Mas antes de Brigton e Ruhmer, o Padre Landell, após anos de experimentação, conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que ele chamou de Gouradphone".
O jornal publica uma ampla reportagem sobre Landell de Moura, sua vida e obra, completada por uma fotografia do Padre, intitulada:
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- "Padre Landell de Moura - inventor do telefone sem fio" (denominação de época para a radiotelefonia ou a transmissão da voz humana à distância sem fio condutor).
Nas
cartas-patentes, fica claro que o padre Roberto Landell de Moura
recomendou o emprego das ondas curtas para facilitar as
transmissões quando essas ondas não eram sequer cogitadas por
outros cientistas.
Além disso, Landell deixou manuscritos que provam que, em 1904,
quando ainda estava nos EUA, projetou a transmissão de imagens
(Televisão) e textos (Teletipo) à distância sem fios. Ele
batizou a primitiva TV de "The Telephotorama ou A visão à
distância". Também há documentação de que foi um dos pioneiros
no desenvolvimento do controle remoto pelo rádio. Esses projetos
não foram adiante porque, como ele próprio disse em uma
entrevista à imprensa brasileira, foi "forçado" a abandonar a
carreira científica.
Roberto Landell de Moura faleceu de tuberculose, aos 67 anos, no
anonimato científico, no Hospital da Beneficência Portuguesa, em
Porto Alegre. Nos últimos momentos de sua vida, quando alguém
indagou sobre os progressos da radiodifusão, ele simplesmente
respondeu: "São águas passadas."
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